【葡文文章翻譯】Leandro Karnal - Todos Contra Todos: o Ódio Nosso de Cada Dia (所有人對抗所有人:我們的日常仇恨[片段])

翻譯巴西作者 Leandro Karnal 在《所有人對抗所有人:我們的日常仇恨(Todos Contra Todos: o Ódio Nosso de Cada Dia)》的一段內容。

《所有人對抗所有人:我們的日常仇恨》一書,2017年7月購於里約





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仇恨總是存在並在我們身旁流轉。失敗、痛楚、孤獨、性冷感問題與生命待我們不公的感覺等存在並積累著時並不好受。最簡單的方法是把它轉嫁給第三者。一個男人在愛情中失敗。怎麼做比較容易?怪罪於女權主義還是自己?答案很簡單。我堅信罪犯不會是西蒙・波娃或貝蒂・傅瑞丹的讀者。他是粗話、俚語及對應於他的痛楚的垃圾思想的讀者。

這些標語很有效:「所有女性主義者需要一個大男人」、「同志正在支配著這個世界」、「無地運動全是流浪漢」。簡短、充滿了苦水、承載著傷痛,這些句子進入大腦中感到恐懼的淺層皮質,充當有效的支柱,並在稀薄的大腦中出現了這些解讀並導向對外的仇恨。即使沒有女性主義,殺人犯依舊是可悲的失敗者,但是他現在認知到他的失敗是女性主義者做造成的,而他沒任何的過錯。這是有史以來最大的鴉片:仇恨。

仇恨並非在童年就有的。憎恨在成年人的溫床誕生、發芽。仇恨是個人與集體認同的核心部分。狂熱的地區主義(卡拉布里亞人對抗隆巴底人,巴斯克人對抗卡斯蒂利亞人等等)總是如此,在狂熱之前:地區主義。另言之,我需要建立一個區域以仇恨另一個。但仇恨與認同是循環的:我在建立一個區域之前,也必須先仇恨。這是個有趣的矛盾。

仇恨的愉悅發軔於此。在向他人叫囂時,仇恨也同樣使我平靜。如果我喝斥某人是流浪漢、因為他生在那片土地上;相對地,我讚美了我自己,因為不生在那、也不是流浪漢。如果我用酸話諷刺一種性傾向,我凸顯出言談中我所隱含的優越感。所有仇恨都是自我表揚,所有仇恨引領我到平和舒適的心境。即使我沒有把握自己是不是很優秀,但是我知道別人是非常糟的,所以至少我是比他們強的。這是兩個偉大的猶太人:耶穌與佛洛伊德所譴責的道德遊戲。

但仇恨展現了一個有趣的功能。它輾平了我方團體中的差異。仇恨,如同許多獨裁者所洞察的,是團結與控制的著力點。仇恨是恐懼的雙胞胎,而恐懼的人容易放棄自己的思想與行動自由。

我們必須謹記:博愛的和風比仇恨的暴怒更加飄渺。交通時的辱罵比床笫中的我愛你還強烈,至少考慮到第一類的語詞豐富性與第二類的詞語缺乏。

仇恨是岔斷的思想和癱瘓般的非理性。思考很艱鉅,而仇恨很容易。如果宗教是馬克思主義下人民的鴉片,仇恨則是心靈的鴉片。它使人中毒並讓中毒者沒有任何的不適。

最後,仇恨具有我們小孩時期自戀的痕跡。世界必須跟我們妥協。如果你不同意,那是你錯了。我們是佈道者,因為我們是小孩。只要民主推崇我的候選人與我的世界觀,民主總是好的。

如果民主說了反對我們的話,那麼民主就是邪惡、扭曲且被操控的。如果偵查結果違背了我們的想法,那是那些機構全都被收買。並不試圖權衡現實,而是要求現實順從自己。當代小孩(尤其是像我一樣超過五十歲的)跺腳、癟嘴、在WhatsApp傳訊息與爭辯。但是,如同所有的小孩,我們誰也不聽。或則,我們有在聽,就聽那同意我們的人所說的;也因此,那人是有智慧且客觀的。我們選擇事實不是根據我們的批判精神,而是根據我們先行採取的先驗決定。

如果意識到仇恨談論到更多的自己而很少提到仇恨的對象是很好的。仇恨的主題與自身的恐懼相似。或許因此內在的仇恨比外在的仇恨更加惡毒。仇恨並不是因為我對蔑視的對象感到全然的不同,而是因為我害怕與之相同。我可以寬饒很多事物,除了鏡子以外。

仇恨是醜陋的,是道德的加西莫多。憤怒仍是原罪,因此,它必須佯裝成對道德的捍衛者、對巴西的熱愛、對現代經濟的分析。它們都是浸淫在醜惡之光的阿波羅。就如同反抗者(厭惡國家者)所想的:我們只有一位德行者,卻有九百九十九位德行老師。相對的,我們可以加上:我們只有一位思慮者,卻有九百九十位仇恨者。

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O ódio sempre existiu e flui por todos os lados. Não é fácil existir e acumular fracassos, dores, solidão, questões sexuais desafetos e uma sensação de que a vida é injusta conosco. O mais fácil é a transposição para terceiros. Um homem fracassa no seu projeto amoroso. O que é mais fácil? Culpar o feminismo o a si? A resposta é fácil. Tenho certeza absoluta de que o autor do crime não era um leitor de Simone de Beauvoir ou Betty Friedan. Era um leitor de jargões, de frases feitas, de pensamento plástico e curto que se adaptava a sua dor. 

Esses slogans são eficazes: "Toda feminista precisa de um macho”, “os gays estão dominando o mundo", "sem-terra é tudo vagabundo". Curtas, cheias de bílis, carregadas de dor, as frases entram no raso córtex cerebral do que tem medo e serve como muleta eficaz. No cérebro rarefeito a explicação surge como uma luz e dirige o ódio para fora. Se não houvesse feminismo, o assassino continuaria sendo o fracassado patético que sempre foi, mas agora ele sabe que seu fracasso nasceu das feministas e ele não tem culpa. Isto é o mais poderoso opiáceo já criado: o ódio. 

Ódio não é dado a ter infância. Nasce adulto em lugares úmidos onde o ressentimento germina. O ódio é parte central da identidade de indivíduos e grupos. Os regionalismos raivosos (calabreses contra lombardos, bascos contra castelhanos etc.) sempre foram, antes de raivosos, regionalismos. Em outras palavras: eu preciso constituir uma região antes de odiar outra. Mas ódios são circulares com a identidade: eu preciso odiar também antes para constituir uma região. Uma contradição interessante. 

Aqui começa a delícia do ódio. Ao vociferar contra outros, o ódio também me insere numa zona calma. Se berro que uma pessoa x é vagabunda porque nasceu na terra y, por oposição estou me elogiando, pois não nasci naquela terra nem sou vagabundo. Se ironizo com piadas ácidas uma orientação sexual, destaco no discurso oculto que a minha é superior. Todo ódio é um autoelogio. Todo ódio me traz para uma zona muito tranquila de conforto. Não tenho certeza se sou muito bom, mas sei que o outro partido é muito ruim, logo, ao menos, sou melhor do que eles. É um jogo moral denunciado por dois grandes judeus: Jesus e Freud.

Mas o ódio apresenta outra função interessante. Ela aplaina as diferenças do meu grupo. O ódio, como vários ditadores bem notaram, serve como ponto de união e de controle. O ódio é gêmeo do medo, e pessoas com medo cedem fácil sua liberdade de pensamento e ação.

Há que se lembrar: a brisa do amor fraterno é mais etérea do que o furor da tempestade de ódio. Insultar no trânsito é mais intenso do que dizer eu te amo na cama, ao menos considerando-se a abundância da primeira frase e a escassez da segunda.

O ódio é uma interrupção do pensamento e uma irracionalidade paralisadora. Como pensar é árduo, odiar é fácil. Se a religião é o ópio do povo para Marx, o ódio é o ópio da mente. Ele intoxica e impede todo e qualquer outro incômodo.

Por fim, o ódio tem um traço do nosso narciso infantil. O mundo deve concordar conosco. Quando não concorda, está errado. Somos catequistas porque somos infantis. A democracia é boa sempre que consagra meu candidato e minha visão do mundo.

A democracia é ruim, deformada ou manipulada quando diz o contrário. Todo instituto de pesquisa é comprado quando revela algo diferente do meu desejo. Não se trata de pensar a realidade, mas adaptá-la ao meu eu. As crianças contemporâneas (especialmente as que têm mais de cinquenta anos como eu) batem o pé, fazem beicinho, mandam mensagem no WhatsApp e argumentam. Mas, como toda criança, não ouvimos ninguém. Ou melhor, ouvimos, desde que o outro concorde comigo; então ele é sábio e equilibrado. Selecionamos os fatos que desejamos não pelo nosso espírito crítico, mas por uma decisão prévia e apriorística que tomamos internamente.

Seria bom perceber que o ódio fala muito de mim e pouco do objeto que odeio. Mas o principal tema do ódio é meu medo da semelhança. Talvez por isso os ódios intestinos sejam mais virulentos do que os externos. Odeio não porque sinta a total diferença do objeto do meu desprezo, mas porque temo ser idêntico. Posso perdoar muita coisa, menos o espelho.

Mas o ódio é feio, um quasímodo moral. A ira continua sendo um pecado capital. Assim, ele deve vir disfarçado da defesa da ética, do amor ao Brasil, da análise econômica moderna. Esses são os apolos que banham de luz a fealdade. E, como queria o rebelde (que odiava o Estado), sempre teremos 999 professores de virtude para cada pessoa virtuosa. Em oposição, convém acrescentar: sempre teremos 999 pessoas odiando para cada pessoa que pensa.

留言

  1. 這篇文章我受益良多......對於仇恨的看法是我從未想過的。天,仇恨是一種幼童的自戀頃向...!
    很感謝你翻譯了這篇文章(愛心

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